Municípios com baixo índice de desenvolvimento humano e com pouca ou nenhuma infraestrutura básica podem ser incluídos em roteiros turísticos, devido aos seus recursos naturais e culturais. É o que defende a turismóloga Marcina Amalia Nunes Moreira, em dissertação desenvolvida junto ao programa de pós-graduação em Geografia, do Instituto de Geociências da UFMG.
Na pesquisa, orientada pelo professor Allaoua Saadi, Marcina Moreira utilizou como exemplo o município de Alto Rio Doce para demonstrar que mesmo em regiões não reconhecidas por sua vocação turística é possível investir em tipos específicos de roteiro. No caso de Alto Rio Doce – localizado na Zona da Mata, a cerca de 220 quilômetros de Belo Horizonte – a pesquisadora propõe um roteiro que inclui a história e a cultura locais, com o envolvimento da comunidade.
O modelo é bem conhecido na Europa, em regiões nas quais turistas hospedam-se em pequenas propriedades rurais, para conhecer de perto atividades rotineiras como plantio e colheita, beneficiamento caseiro de frutos e cuidados com o rebanho. “Há pessoas que fazem esse tipo de turismo na Europa mas não conhecem a realidade das áreas rurais do Brasil”, comenta a autora da pesquisa.
Segundo ela, além da hospedagem em propriedades rurais, uma das opções em alguns municípios mineiros seria a criação de um circuito de alambiques. “O turista poderia ver o processo de produção da rapadura em um alambique, da garapa em outro e da cachaça em um terceiro. Outra possibilidade seria conhecer os caminhos, dentro da propriedade, que o vaqueiro, por exemplo, faz todos os dias. Isso é aliar a interpretação da paisagem cultural com a paisagem natural”, explica, ao comentar que pesquisas que envolvam o olhar e a interpretação apresentam-se como estratégias motivacionais para se pensar o turismo de maneira distinta, “uma vez que permitem ao observador ver a paisagem sem se separar da mesma, vendo-o com ela”.
O envolvimento das comunidades locais faria o diferencial entre esse novo turismo e a forma tradicional de turismo. “Na dissertação, proponho a participação comunitária e também uma maior sensibilização da população no que se refere ao histórico do município e ao modo de vida dos habitantes, ponto crucial para o desenvolvimento turístico responsável baseado na proteção do patrimônio rural”.
Marcina Moreira explica que em seu estudo utilizou metodologia específica elaborada pelo Ministério do Turismo, sugerindo adotar a paisagem como categoria de análise geográfica do espaço e como uma forma de linguagem. “A interpretação da paisagem em distritos e aglomerados, fazendas e caminhos rurais e sua hierarquização enquanto atrativos e equipamentos turísticos possibilitaram a proposição dos roteiros”, diz.
A inclusão de regiões com baixo desenvolvimento humano em roteiros turísticos rurais, pode ser a solução para atrair capital e promover o desenvolvimento socioeconômico. A visita de turistas ao meio rural em fazendas, fabricação de cachaça, rapadura, plantações , criações, podem criar oportunidades de desenvolvimento das famílias do interior. Essa demanda turística é bem conhecida na Europa e tem grande potencial de dar certo no Brasil.
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